Quando o Trabalho se Torna uma Zona de Guerra
O ambiente de trabalho deveria ser um lugar de crescimento e colaboração. No entanto, para muitos, ele se transforma em um campo de batalha psicológico devido ao assédio moral. Este fenômeno, também conhecido como bullying corporativo, pode destruir carreiras, afetar a saúde mental e física dos colaboradores, além de prejudicar a produtividade e a reputação das empresas. Neste artigo, vamos explorar as raízes do assédio moral, suas consequências e as medidas que as organizações podem adotar para preveni-lo.
Definindo o Assédio Moral: O Poder da Intimidação
O assédio moral no local de trabalho é caracterizado por comportamentos repetitivos e prolongados de humilhação, intimidação e desvalorização de um colaborador ou grupo de colaboradores. Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) define o assédio moral como "ações que visam ou têm o efeito de violar a dignidade de uma pessoa, criando um ambiente intimidador, hostil, degradante, humilhante ou ofensivo". Esses comportamentos podem variar desde insultos diretos e ameaças até a sabotagem do trabalho e exclusão social.
De acordo com um estudo da Society for Human Resource Management (SHRM), 75% dos trabalhadores nos Estados Unidos afirmaram ter sido afetados por assédio moral, seja como alvo ou como testemunha. Essa prática é frequentemente perpetrada por indivíduos em posições de poder que usam sua autoridade para coagir e controlar os subordinados. No entanto, o assédio também pode ocorrer entre colegas de mesmo nível hierárquico, criando um ambiente tóxico e hostil.
O Impacto Devastador: Quando as Palavras Ferem mais que Armas
As consequências do assédio moral são profundas e de longo alcance. Para os indivíduos, o assédio pode resultar em problemas psicológicos, como depressão, ansiedade e baixa autoestima. Também pode levar a doenças físicas, incluindo problemas cardiovasculares e distúrbios do sono. Um estudo publicado no Journal of Occupational Health Psychology revelou que os trabalhadores expostos ao assédio moral têm 55% mais chances de sofrer de problemas de saúde mental em comparação com seus colegas.
Do ponto de vista organizacional, o assédio moral pode levar a um aumento do absenteísmo, rotatividade de funcionários e queda na produtividade. Além disso, empresas que toleram ou ignoram o assédio correm o risco de enfrentar ações judiciais, danos à reputação e perda de confiança dos clientes e do público.
Tipos de Assédio Moral
O assédio moral pode se manifestar de diversas maneiras no ambiente corporativo:
Assédio Vertical Descendente: Quando um superior hierárquico utiliza seu poder para humilhar ou intimidar um subordinado, como sobrecarga de tarefas, críticas constantes e ameaças veladas de demissão.
Assédio Vertical Ascendente: Embora menos comum, ocorre quando subordinados isolam ou boicotam um superior, desrespeitando sua autoridade.
Assédio Horizontal: Envolve comportamentos abusivos entre colegas de mesmo nível hierárquico, como fofocas, exclusão social ou sabotagem de trabalho.
Assédio Organizacional: Quando a cultura da empresa ou políticas internas incentivam ou ignoram práticas de assédio, perpetuando um ambiente tóxico.
Assédio Moral e Discriminação de Gênero
Assédio moral relacionado ao gênero é uma realidade enfrentada por muitas mulheres no ambiente corporativo. Esse tipo de assédio pode se manifestar de diversas formas, como piadas sexistas, comentários sobre a aparência física, desvalorização do trabalho realizado por mulheres ou exclusão de projetos importantes.
Case no Brasil: A empresa O Boticário enfrentou uma denúncia de assédio moral e sexual em 2020, quando funcionárias relataram comportamentos inadequados de superiores hierárquicos. Após uma investigação interna, a empresa implementou políticas mais rígidas e programas de treinamento para prevenir esses comportamentos.
Ação Corporativa: Empresas como a Natura e a Magazine Luiza têm implementado programas de diversidade e inclusão que visam não apenas contratar mais mulheres, mas também criar ambientes onde elas se sintam seguras e respeitadas.
Assédio Moral por Raça e Etnia
O racismo no local de trabalho pode se manifestar de maneiras sutis e diretas, como exclusão de reuniões importantes, falta de reconhecimento por contribuições feitas ou comentários depreciativos sobre a origem étnica de um colaborador.
Case Internacional: Em 2020, a Google enfrentou uma controvérsia significativa após denúncias de funcionários negros sobre tratamento desigual e discriminação racial. A empresa foi criticada por não proteger seus funcionários e por uma cultura que perpetuava o racismo institucional.
Ação Corporativa: Após o caso, a Google revisou suas políticas de diversidade e começou a realizar treinamentos obrigatórios sobre viés inconsciente e racismo estrutural, além de criar grupos de apoio para funcionários de minorias étnicas.
Assédio Moral por Orientação Sexual e Identidade de Gênero
Assédio moral baseado em orientação sexual ou identidade de gênero envolve práticas discriminatórias que visam inferiorizar ou marginalizar colaboradores LGBTQIA+. Isso pode incluir desde a recusa em usar pronomes corretos até a disseminação de comentários homofóbicos.
Case Nacional: Em 2019, o Banco do Brasil foi alvo de críticas após relatos de discriminação contra um funcionário transgênero, que enfrentava piadas constantes e desrespeito de colegas e superiores. O banco, em resposta, iniciou uma campanha interna de conscientização e reforçou políticas de inclusão.
Ação Corporativa: Grandes empresas como a Itaú Unibanco têm liderado iniciativas de inclusão LGBTQIA+, criando políticas robustas contra a discriminação e promovendo o respeito à diversidade sexual e de gênero em todos os níveis da organização.
Capacitismo e Assédio Moral
O capacitismo no ambiente de trabalho se refere à discriminação contra pessoas com deficiência. Assédio moral nesse contexto pode envolver desde a exclusão de atividades, até a subestimação da capacidade de um colaborador, ou a falta de adaptações necessárias para que ele possa desempenhar suas funções.
Case no Brasil: Em 2021, a Multinacional Braskem foi criticada por não fornecer acessibilidade adequada para um colaborador com deficiência física, o que limitava sua participação em reuniões importantes e sua visibilidade dentro da empresa.
Ação Corporativa: Após a crítica, a Braskem revisou suas políticas de acessibilidade, implementando medidas que garantissem a inclusão plena de colaboradores com deficiência, e promovendo uma cultura de respeito e igualdade.
Quando Você Está Cometendo Assédio Moral?
Muitas vezes, práticas de assédio moral são normalizadas no ambiente corporativo, sendo vistas como parte da "cultura da empresa" ou como "jeito de pressionar para alcançar metas". No entanto, é fundamental reconhecer quando essas práticas cruzam a linha do que é aceitável.
Comportamentos normalizados, mas nocivos, incluem:
Microgestão: Controlar cada detalhe do trabalho de um funcionário, gerando um ambiente sufocante e desestimulante.
Críticas em público: Criticar ou desmerecer o trabalho de alguém na frente de outros colegas, o que pode humilhar e desmoralizar o funcionário.
Exclusão social: Ignorar um colega deliberadamente, não incluindo-o em reuniões ou decisões importantes.
Atribuição de tarefas sem sentido: Delegar tarefas irrelevantes ou impossíveis de serem realizadas como forma de punir ou ridicularizar o funcionário.
Como Perceber que Você Está Sofrendo de Assédio Moral?
Identificar que você está sendo vítima de assédio moral pode ser difícil, especialmente quando o comportamento abusivo é sutil ou disfarçado de “exigências do trabalho”. No entanto, alguns sinais podem indicar que você está sendo alvo de assédio:
Sentimentos de ansiedade ou medo ao ir para o trabalho.
Insônia ou distúrbios do sono devido ao estresse.
Sensação constante de inutilidade ou incompetência.
Isolamento social dentro do ambiente de trabalho.
Alterações físicas, como dores de cabeça, tensão muscular ou problemas digestivos.
O Senso Comum e a Minimização do Assédio Moral na Cultura Brasileira
Na cultura brasileira, muitas práticas de assédio moral ainda são vistas como "normais" ou "parte do jogo corporativo". Expressões como "precisar ter couro grosso" ou "o chefe é assim mesmo" refletem uma naturalização de comportamentos abusivos que, na realidade, causam danos profundos aos colaboradores.
Dados Relevantes: Segundo uma pesquisa do Ministério Público do Trabalho (MPT), mais de 40% dos brasileiros já sofreram algum tipo de assédio moral no trabalho, mas a maioria não denuncia por medo de retaliação ou por acreditar que a situação não mudará.
Quebrando Paradigmas: É fundamental educar as pessoas sobre o que constitui assédio moral e porque ele é prejudicial. Muitas vezes, comportamentos normalizados, como piadas depreciativas ou exclusão social, são ignorados, mas têm impactos sérios na saúde mental e no desempenho profissional.
A legislação brasileira condena firmemente o assédio moral em todas as suas formas, reconhecendo-o como uma violação dos direitos fundamentais do trabalhador. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Constituição Federal garantem a dignidade e a integridade moral de todos os colaboradores, independentemente de sua posição hierárquica.
O assédio vertical, seja descendente ou ascendente, assim como o horizontal e organizacional, pode ser enquadrado como uma conduta ilícita, sujeitando o empregador a sanções que incluem indenizações por danos morais.
Além disso, práticas discriminatórias baseadas em gênero, raça, orientação sexual ou deficiência também são puníveis pela legislação específica, como a Lei 9.029/1995, que proíbe a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa ao acesso ou à manutenção da relação de trabalho. Portanto, a lei brasileira não apenas reconhece a gravidade do assédio moral, mas também prevê mecanismos para a sua punição e prevenção.
O Que Fazer Quando Você Sofre Assédio Moral?
Se você suspeita que está sendo vítima de assédio moral, é crucial tomar medidas para proteger sua saúde mental e física, além de garantir seus direitos no ambiente de trabalho.
Passos a Seguir:
Documente Tudo: Mantenha um registro detalhado de todos os incidentes de assédio, incluindo datas, horários, o que foi dito ou feito, e quaisquer testemunhas. Esses registros podem ser essenciais se você decidir tomar ações legais ou apresentar uma queixa formal.
Procure Apoio: Converse com colegas de trabalho em quem você confia para entender se eles também notaram o comportamento ou se passaram por experiências semelhantes. O apoio de outros pode fortalecer sua posição e ajudar a reduzir o sentimento de isolamento.
Informe seu Supervisor ou RH: Se você se sentir seguro, informe o comportamento ao seu supervisor ou ao departamento de Recursos Humanos (RH). Algumas empresas têm políticas e procedimentos para lidar com denúncias de assédio moral. No entanto, se o assédio for perpetrado pelo seu supervisor, é importante escalar a questão a um nível superior ou buscar apoio externo.
Considere Assistência Jurídica: Se o assédio persistir e a empresa não tomar medidas adequadas, pode ser necessário procurar assistência jurídica. No Brasil, o assédio moral é considerado uma violação dos direitos trabalhistas, e você pode ter direito a compensação por danos.
Cuide da Sua Saúde Mental: Lidar com o assédio moral pode ser exaustivo. Busque apoio de um psicólogo ou terapeuta para ajudá-lo a gerenciar o estresse e as emoções decorrentes dessa situação.
O Papel das Empresas na Prevenção e Combate ao Assédio Moral
As empresas têm a responsabilidade de criar um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todos os colaboradores. Para prevenir e combater o assédio moral, as organizações devem:
Implementar Políticas Claras: Estabelecer políticas explícitas contra o assédio moral, com definições claras do que constitui assédio e as consequências para quem o pratica.
Promover a Educação e a Conscientização: Realizar treinamentos regulares sobre assédio moral e discriminação, sensibilizando os colaboradores e gestores para reconhecerem e reagirem a esses comportamentos.
Criar Canais de Denúncia Seguros: Disponibilizar canais confidenciais para que os colaboradores possam relatar casos de assédio sem medo de retaliação.
Fomentar uma Cultura de Respeito: Promover uma cultura organizacional baseada no respeito, na inclusão e na valorização de todos os colaboradores, independentemente de sua posição hierárquica, gênero, raça, orientação sexual ou qualquer outra característica.
Conclusão: A Luta Contra o Assédio Moral Começa Agora
O assédio moral nas empresas é uma realidade que precisa ser enfrentada com seriedade. Ele não é apenas uma questão de comportamento inadequado; é uma violação dos direitos humanos que afeta a saúde, a dignidade e o bem-estar de milhares de trabalhadores. Para transformar o ambiente corporativo em um espaço seguro e produtivo, é essencial que tanto empresas quanto colaboradores tomem uma posição firme contra o assédio moral, educando, prevenindo e agindo sempre que necessário.
Ao quebrar o silêncio e desafiar as normas culturais que minimizam a gravidade do assédio, damos um passo significativo em direção a um futuro onde todos os trabalhadores possam se sentir valorizados e protegidos em seus locais de trabalho.
Os programas de bem-estar e saúde mental, como os oferecidos pela Shantihi, são fundamentais para criar e manter um ambiente corporativo saudável e produtivo. Ao focar no cuidado integral dos colaboradores, esses programas ajudam a prevenir o surgimento de problemas como o assédio moral, promovendo uma cultura de respeito, empatia e inclusão. Além disso, iniciativas de bem-estar contribuem para o aumento da resiliência emocional e da satisfação no trabalho, resultando em equipes mais motivadas e comprometidas. Através de palestras e práticas (personalizadas através de um preciso diagnóstico integrativo), tais como meditação, práticas de respiração e atenção plena, e suporte psicológico, a Shantihi auxilia as empresas a construírem um ambiente onde todos se sintam valorizados e protegidos, transformando a cultura corporativa de dentro para fora. Confira em nossos canais.
Referências:
GOV.BR - Assédio Moral no Trabalho
Organização Internacional do Trabalho (OIT) - Violência e Assédio no Mundo do Trabalho
Ministério Público do Trabalho - Assédio Moral no Trabalho
CNJ - Assédio Moral e Assédio Sexual nas Relações de Trabalho
OAB - Cartilha de Assédio Moral
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